Eu não entendo de patentes. Acho bonito o ornamento exterior, as insígnias que reluzem no linho-oliva dos militares. É tudo muito ostentoso, as medalhas reluzentes; aquilo tudo torna o homem praticamente invulnerável à condição de homem, ele nega-se a si embrulhado em tantos emolumentos, sinaliza poder, faz a sombra parecer luzível perante a quem vê o dignitário dos títulos honoríficos, muitos amealhados sem o disparo de um único tiro, exceto nos não-inimigos, que só revidam lágrimas, que não ferem ninguém.
O drama vivido por três jovens após serem presos por soldados do Exército na capital Fluminense e depois entregues a uma facção rival, atormenta. Os rapazes foram retalhados pelos inimigos. Descer aos detalhes necroscópicos do fato é sintoma de gosto pelo rasteiro, é fugir da escola que ensina que o melhor da narrativa está em como contá-la sem chocar ou chocar com a sobriedade imperial dos obtusos.
Se eu disser que tal tragédia é um sinalizador da miserê atual, irei me repetir; mas repetições, quando postas em grau de instabilidade na mente da gente, produzem efeitos soberbos, cala fundo até num espírito raso como o... meu? Vá lá, hoje não estou para ofender a ninguém.
O estado precário do nosso Estado faz eco apenas no tempo em que cai nos nossos ouvidos, ou pupila, ocorrências dessa natureza; soluções naturalmente há; uma delas é proibir que se noticie notícias assim, mas para apelar a um remédio radical deste é preciso regurgitar as ideias impregnadas nas contas bancárias dos homens que detêm o poder no Brasil, e sabemos que regurgitar o que nos é aprazível é tão dolorido quanto ver um desafeto vagando na planície do sucesso.
Umas das coisas mais delicadas e onerosas que cabe a quem nasce aqui é ser brasileiro. Ser brasileiro é, antes de tudo, um ato de coragem, abnegação e também resignação. Ser brasileiro é viver tremulando num vértice de pirâmide, tentando o equilíbrio num gume. A motivação maior é que exterminar em nós o gene que nos identifica como brasileiros integra-nos na classe da desonra; dir-se-á de quem o fizer que são impatrióticos, judeus que reclamam uma nação e depois renegam a nação. O que, observando bem, não é de todo o mal. Desvencilhando-se do país que está integralizado em nós por razões sanguíneas ou territoriais, fazemos um favor a quem por ventura critique a ruptura. Creia: antes a vergonha da “desnação” à vergonha do silêncio diante de tanta calamidade. Sei lá; às vezes guardo a impressão de que falo, falo e não digo nada.
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