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Catilina Brasilianus



Anda em curso, pelas estribeiras da cidade de São Paulo, um movimento intitulado, “Cansei”. “Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência?”, esse dito atribuído a Cícero, não o padre, mas o poeta e chanceler romano, podia ser a epígrafe do movimento liderado pela OAB/SP e pelo empresário almofadinha João Dória Jr., aquele que organiza passeios para cães em Campos de Jordão com direito a UTI e a et caterva. Não admira. O cientista Richard Dawkins que quer a morte de Deus estudava o comportamento sexual dos grilos nos anos 70. Grilo e cão são criaturas, merecem afeto.


O que vem a ser o Movimento? A insatisfação com a atual e velha penúria nacional. Erra todavia, quem crê legítimo o movimento. O estado de penúria verde-amarelo se estende desde o longínquo 22 de abril de 1500 sendo os índios os primeiros vitimados pela insânia “civil” européia. O nó górdio é que a penúria esborrou para os flancos da classe média e alta do país. Neste caso Catilina, tem de pagar. O Catilina da vez é o presidente Lula, um homem moral, ética e tecnicamente fraco; não obstante, seu pior defeito não é ser demagogo, ideologicamente desonesto e sim: - não pertencer ao clero que por sempre governou este país.


Enquanto a miséria permeava apenas o serviçal da casa de gente como Dória Jr., tudo bem, não carecia de comoção, mas quando ela, irresoluta, roça as barbas do mundinho encantado de gente como ele, aí muda de figura. O acidente da TAM foi o estopim. Não importa que 35 mil patriotas morram anualmente nas estradas imprestáveis do país; que haja um déficit de 5 milhões de casas; que doenças medievais como malária e dengue afete uns milhares; que 40 mil sejam assassinados por ano; e tantas outras facetas que você deixaria de ler este artigo caso eu prosseguisse. Povo meu: 3 MIL PESSOAS FORAM ASSASSINADAS NO RJ NO PRIMEIRO SEMESTRE! O “Cansei” veio à tona porque o desgoverno secular atingiu um dos símbolos da aristocracia brasileira: os aeroportos. Templos que os endinheirados usam para gastar fora o que aqui ganharam não raro de modo sub-reptício. Causa-me espécie ver que a elite perversa deste país tolerou dividir seu templo sagrado com os de menos condições, agraciados por novos ventos na economia. Mas tolerar não é igual a resignar.


Catilina-Lula corre grave risco de ser catapultado donde está. Não apenas por sua tibieza política, mas por descuidar de afagar os ricos que controlam 90% da riqueza nacional. Não bastou fazer com que bancos como Itaú e Bradesco batessem recordes de lucros com os juros na estratosfera. Ele esqueceu que os poderosos não podem ser afetados, pois eles têm voz e alta voz. E aviões que pousam em prédios ou em selvas aborrecem os Dórias de todas as matizes; e se um deles estivesse lá? A imprensa faz a sua parte, relembrando frases infelizes de Lula antes de tomar o poder: mas FHC pediu para esquecer o que havia escrito; Afonso Pena alegou amnésia; Napoleão prometeu salvar vidas francesas quando era mero tenente (50 mil morreram na invasão à Rússia, mas ele já era general...); Churchil negou que havia manobras na Normandia; a mais crucial mentira já dita por um político. Algumas verdades são tão preciosas que precisam ser escoltadas por mentiras, teria dito. Políticos são políticos; mentem quando preciso e falam a verdade quando estão mortos, ocasião que não causam danos aos seus governados. Lucio Sergio Catilina, cônsul romano, quando foi expulso de Roma, exclamou: “Uma vez que querem lançar um incêndio contra mim, eu o abafarei debaixo de ruínas”. Não se sabe se Lula que arruinar o Brasil; caso queira não precisará de muito, a ruína já está edificada.





Escrito por Alex Menezes às 22h15


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