Dia desses escrevi que cada país tem o Nicolau que merece. A Rússia tem o Gogol; a Polônia o Copérnico; a Itália o Maquiavel. Nós temos o do Santos Neto. A Grécia nos deu Calipso, uma das deusas fiandeiras que se apaixonou por Ulisses (Odisseu) e seu drama virou alta literatura pelos olhos cegos de Homero. O que faz o Brasil para imitar burlescamente o que se produz de bom no além-fronteira? Produz Banda Calypso, assim mesmo com y, para conferir mais charme à bizarrice.
O Instituto Datafolha revelou que este grupo é o mais ouvido do Brasil, seguido por Zezé de Camargo. Isso explica muito do atual cenário caótico; da falta de segurança ao caos aéreo; da corrupção endêmica ao esgoto a céu aberto; dos mendigos na rua à et cetera trágica que assola a todos. A sociologia explica a miséria por meio da música. Os ouvintes da tal “banda” são quem na verdade dirigem o país. Antes havia o mito de que Roberto Marinho era quem mandava; desfaço o mito em uma linha; Chimbinha e Joelma são os controladores do promissor futuro do Brasil.
Um dos cúmplices da tragédia ouvido pela Folha de SP, produtor musical e também diretor de um programa idiotizante chamado “Ídolos”, explicou o sucesso do grupo: “A Calypso é a verdade do povo brasileiro, o Chimbinha é um guitarrista genial, seu repertorio é de fácil assimilação”. Concordo com ele. É muito mais fácil a fruição dos versos do Chimbinha do que coisas horrendas como estas: “Pena de pavão de krishna/ maravilha/vixe Maria mãe de deus/ será que esses olhos são seus?”. Ou outra coisa mais aberrante: “Eu sou funcionário/ ela é dançarina/ quando eu não salário/ ela sim/ propina”. Como, por Júpiter, um sujeito, alto dirigente do país morador dum rincão do Pará vai absorver isto? Então lhe enfie os sustenidos e bemóis dançantes da Joelma que todas as misérias destes flagelados serão suspensas, pelo menos até durar a música.
Já o Sr. Camargo ouvido pelo Datafolha não esboçou surpresa: “Sem querer ser arrogante, não vejo surpresa no resultado”. Eu vejo. E o resultado, Sr. Camargo, não poderia ser pior. Ou pode. Recebi por e-mail fotos “ocultas” que não vão para os jornais que mostram os mortos no “Morro do Alemão”, lugar onde o Sr. deve vender muitos Cds; cérebros esmigalhados; cenário de filme de terror. Mas aquilo acontece na “Comunidade”; “comunidade” é o cacete! Termo pejorativo e imbecil; porque a imprensa não noticia “Comunidade” dos Jardins ou de Ipanema?
Enquanto essa massa disforme chamada povo continuar a se alimentar e ser guiada culturalmente por essas teratologias vai mal o país; aposto um CD do Latino que 101% dos entrevistados pelo Datafolha (foram 135 cidades ouvidas) não façam a mais vaga idéia de quem (ou o que) seja Renan Calheiros; 99% ignora que exista um Congresso, sendo que o 1% que não ignora crê fielmente que ele seja um campo de pouso para naves extraterrestres e devem discutir acaloradamente entre um hit e uma birita se é necessário ou não a instalação do grooving na pista:
- Tinhorão, eu acho que tem precisão sim sinhô, e se morre uns Ets desse aí? A coisa fica preta pra nóis. Tem de butar esse greve lá sim sinhô.
Vou fazer como os atletas cubanos e pedir asilo político; na Barra da Tijuca, no Lago Sul em Brasília, ou nalguma mansão do Morumbi, quero urgentemente mudar deste país.
Escrito por Alex Menezes às 22h12
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